[RECOMEÇOS]

[Leia ouvindo "Ho Hey" - The lumineers]
[Sim, é mais um texto sobre finais pois a autora acha necessário escrever sobre finais. Ela pede compreensão e perdão por se demorar tanto num tema que o mestre Rilke pediu para evitar em Cartas A Um Jovem Poeta]

                 Você vai achar que será o fim quando acabar. Você vai chorar em algumas noites e vai ler "A Ruptura" de Rupi Kaur umas quinze vezes só por você se identificar com cada poema. Você ainda vai cair na tentação de enviar uma carta longa e dramática.
                  Depois disso (enquanto lê "A Ruptura") você vai se lembrar do motivo de ter partido:

"Eu não fui embora porque deixei de te amar. 
Eu fui embora porque quanto mais eu ficava, 
Menos eu me amava"

                  Daí você vai voltar a pintar. Vai fazer telas e mais telas até suas unhas ficarem manchadas de tinta a óleo. Você vai querer ler Lovecraft, Aghata Christie, Stephen King ao invés de Jane Austen, Jojo Moyes e Brontë. Você vai se lembrar que outras coisas também têm história e vai visitar museus, instalações, vai ver performances. Você vai se olhar no espelho e verá algo de Marina Abramovic e se sentirá ótima com isso.
                  Você lerá os diários de Sylvia Plath e alguns poemas mal traduzidos da Anne Sexton enquanto escuta "Ela" da Maria Gadú. Você vai se sentir tão você quando ela sussurrar:

"Paralela a toda feminilidade, 
Ela Canta, canta"
     
                    Vai começar a ouvir Carne Doce, Supercombo. Vai até fazer vista grossa e ouvir uma ou duas músicas do Pedra Letícia. Vai ao teatro, a ópera. Começará a fazer aula de violino e sapateado e vai se sentir ótima com isso. Mesmo que você tropece nos próprios pés e acabe não conseguindo tocar nenhuma mísera nota.
                     Mudará o cabelo. Cortar bem curto ou pintar. Talvez vermelho ou roxo. Talvez uma franja. Vai fazer uma tatuagem e talvez colocar um brinco. Você sempre quis sair por aí usando argolas e um piercing na orelha. Você vai mudar de telefone, mas manterá o endereço.
                     Você vai se reconstruir aos poucos com tijolo, soluço, cimento, tijolo e coragem. Vai reerguer as paredes que desabaram. Vai seguir uma planta diferente dessa vez com uma boa fundação. Vai rejuntar as paredes e pintar com cores vibrantes. Talvez um azul.
                      E depois de um tempo, meses, talvez anos, quando a obra estiver pronta, você vai sair para tomar um cafezinho consigo mesma enquanto lê um romance de Tolstói. Alguém vai te interromper. Oi. Desculpa. Que livro é? Qual seu nome? Posso sentar e te pagar um bolo? Tem um festival amanhã. Gosta de Cícero?
                      E vai ser aí que você abrirá a porta novamente. Vai deixar ele entrar de malas e tudo. Vai torcer para ele não bagunçar a casa e não vai ter medo de desmoronar novamente - Afinal, você tem uma boa fundação agora.

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