[ARTE]

     [Leia ouvindo "One Night Alone" - Winterpark]   




            Quando Marina Abramovic fez seu manifesto sobre um artista não poder amar outro artista, ela deve ter pensado em fogo perto da pólvora e de tudo indo pelos ares. Ela deve ter pensado em dinamite, bombas nucleares. É isso que acontece quando um artista ama outro artista: tudo explode.
            Ousei amar outro artista e foi como um big bang. Começou como Clarice disse: Uma molécula dizendo sim para a outra. Matéria e antimatéria, rajadas de energia me cortando e o universo inteiro surgindo bem diante de nós entre tinta, versos soltos e línguas afiadas. Criamos nosso próprio dialeto a partir do nada. A água se formou abaixo dos nossos pés e surgiu a terra seca; revoluções solares ocorreram em cima de nossas cabeças. Microrganismos dançavam ao nosso redor. Éramos como deuses correndo pelos quatro cantos da Terra em baixo do nosso próprio caos. Éramos como deuses brincando de criar esculturas de pó.
              Houve chuvas, a evolução, vimos a grama verde surgir em baixo de nós e decidimos rolar nela. Brindamos a existência e a nossa própria criação. Era poderoso mandar e desmandar no nosso universo. Podíamos gritar haja luz quando nos apetecesse. Nos pendurávamos no abismo do cosmo e dávamos as mãos. Éramos infinitos. Colhíamos estrelas e dormíamos nas nebulosas com vista para milhares de planetas - Tudo obra nossa.
               Foi aí que aconteceu. A matéria e a antimatéria gritaram de novo e se colidiram retroagindo. Limitando nosso espaço infinito num grande Big Crunch - Devorador de energia e de tempo. Tudo se foi num piscar de olhos, numa outra grande explosão. De repente não havia nada. Só o vazio e você flutuando para longe de mim. Foi criar outro sistema solar, eu acho.
                É, meu amigo. Artistas as vezes criam grandiosos universos, trabalhos dignos de deuses. Mas muitas vezes eles acabam destruindo a sua própria obra prima.

Comentários

  1. Poderia o próprio amor ser considerado arte? Seriam todos que amam de alguma forma artistas? Que linguagem ele, o amor, escolheria para se exteriorizar? Talvez a pintura do encontro dos amantes. Ou quem sabe a melodia do riso dos apaixonados. Talvez versos ou mesmo palavras soltas. Talvez tudo isso. Ou talvez nada disso. Talvez a verdadeira arte esteja na graça da menininha enfiando a mão nos bolsos para saber quantos corações consegue carregar. Ou quem sabe na experiência daquele simpático senhor que faz a menininha pensar em coisas que ela não imaginava. Eu particularmente acho que a arte está em se amar sem solidão, porque quando se ama em solidão, o amor não é arte. É sofrimento.

    Obrigado pelo presente de 3 postagens hoje.

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