[PEIXES]

             Quando eu era criança me convenci que era uma assassina de peixes. Nenhum sobrevivia comigo. Vamos, não me julgue. Ainda não.
              Meu primeiro peixinho era dourado e eu o chamava de George. Não me pergunte o motivo. O fim de George foi trágico. Um dia eu me descuidei um pouco e me esqueci de alimentar o gato e de esconder o aquário. George partiu. Mar chegou. Mar era o segundo peixinho dourado, mas ele não durou muito tempo também. O que aconteceu foi que eu, com os meus ridículos oito anos de idade esqueci de alimentar o peixe e de limpar seu aquário também. Eu sei, podem me julgar. Mas as vezes crianças de oito anos têm outras coisas para fazer e são muito distraídas.
              Depois disso chegou a Cloe (Ela pulou do aquário tentando dar cabo de sua vida, como em Amelie Pulain), o Beta (A minha criatividade deu esse nome por ele ser um beta - Não sei bem do que ele morreu. Mas ele morreu também), depois o Hector, o Bob, o Marx, até que eu perdi a vontade de dar nomes para eles e comecei a chamá-los por números. Depois de um tempo, papai parou de ir na petshop para substituir meus peixes. Ele já estava de saco cheio da cerimônia fúnebre e do cortejo que fazíamos para os peixes mortos e seus corpos estáticos. E eu cansei de vê-los partir e de chorar quando eles morriam.
                Quando eu cresci, o carma me acompanhou. Acho que ele notou que eu não seria mais nenhuma matadora de peixes e me transformou numa assassina de amores. E acredite quando eu digo que amores morrem tão fácil quanto peixes, e isso é realmente muito triste. Basta se descuidar e deixar o amor a mostra para gatos famintos; ou se esquecer de alimentar e limpar por ter coisa melhor para fazer; ou deixar o amor tão entediado a ponto dele querer dar cabo de sua vida. Os amores demoram para aparecer ou as vezes vêm assim: um atrás do outro em um completo frenesi e é impossível não se culpar pela morte dos amores. Quando eles morrem... Dói tanto. Mais do que perder peixinhos aos oito anos de idade.
                 Após fazer um cortejo e uma marcha fúnebre para o último amor que eu perdi, dei descarga e fui para o meu quarto, me deitei com meu pijama preto - Afinal, eu estava de luto. Após algum tempo de choro frenético, fiz uma oração e me desculpei antecipadamente - Vou continuar amando e matando amores. Me perdoa. Se eu não o fizesse eu morreria. Algum livro velho uma vez disse: "Sem amor, eu nada seria". Acho que no final do dia, eu concordo com isso.               

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