[CAQUINHOS]

[Leia ouvindo "Last Day In The Earth" - Kate Miller]
            A última vez que quebraram o coração de Nena, ela se estrepou. Saiu por aí sem eira nem beira procurando certos braços para se apoiar. Parou naquela cafeteria do centro - Aquela que fazem bolinhos de chuva com canela e vendem por aquele precinho camarada. Ela pediu os bolinhos e um chá de camomila - Ela precisava de algo quente para acalmar o coração.
            Nena estava a cada dia mais especialista nesse negócio de coração partido. Ela queria saber mesmo era quantas vezes ela podia recolher seus caquinhos e colar uns nos outros. Ela sempre perdia um ou outro caquinho, mas eventualmente, quando limpava a casa, os achava. Nena estava ficando ótima nesse negócio de colar caquinhos de corações partidos. Talvez fosse boa nisso por ter praticado com quebra-cabeças quando era mais nova.
             Nena suspirou enquanto o vapor do seu chá embaçava seus óculos de lente grossa. Isso a fez lembrar de como seus óculos embaçaram na primeira vez que ela deixou partirem seu coração. Isso a entristeceu ainda mais. Porém Nena, especialista em prosa e poesia, se lembrou do mestre Carlos:


"Carlos, sossegue, o amorhoje beija, amanhã não beija,depois de amanhã é domingoe segunda-feira ninguém sabeo que será.é isso que você está vendo"


               Ela suspirou mais uma vez naquela tarde de sexta feira. Nena, Sossegue, o amor hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã já é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será. Ela limpou suas lentes grossas. Pagou seu chá e bolinhos e foi para casa colocar um tubinho preto. Naquela noite, Nena não beijou exatamente o amor. Na manhã seguinte, passou o dia de cama sem beijar ninguém. E na segunda-feira, quando passou atrasada para o trabalho, conheceu Augusto. E seu coração já estava pronto pra se estilhaçar novamente. O amor é assim mesmo, Nena. Chega segunda-feira e ninguém nunca sabe o que será.
              





                

Comentários

Postagens mais visitadas