[Primeiros]

[Leia ouvindo The Night We Met - Lord Huron]
[Não penso em quase nada já tem um tempo]
[Nenhum dos eventos tem qualquer relação com a vida real. Vamos, pare de me julgar. Não precisa ler se não quiser]


                O meu primeiro beijo teve gosto de skol beats e liberdade; ele não era o amor da minha vida ou o cara que eu gostaria de amar. Não nos amávamos e estava tudo bem; isso era a parte da liberdade naquela tarde febril, enquanto eu me estendia na ponta dos pés e ele se inclinava com os lábios suaves. Não tínhamos o que dizer. Só guardei essa história no bolso para contar anos mais tarde com gosto de torpor e febre. 
             O meu segundo beijo teve gosto de paixão e prisão. Eu me sentia amada e aprisionada de todas as formas possíveis. Era catastrófico. Eu não o amava e não ficou tudo bem quando ele sussurrou um "eu te amo" soluçado. Pensei em timing, no que o cinema me disse sobre os amores mais sofridos e sobre a impossibilidade de amar quem não se ama e sobre decidir se tem responsabilidade sobre aquela pessoa ou se vai embora. Não gosto de contar essa história. Não é bom magoar as pessoas.
                O meu terceiro beijo tinha gosto de paiol e depressão. O cara não falava muito dele mesmo, mas tinha bons olhos para fotos. Era um artista e apesar de termos nos visto pouquíssimas vezes, ele conseguiu me captar bem em seus retratos pensados. Ele conseguia carregar água na peneira e eu tinha certeza que colecionava sonhos num filtro. Quando ele beijou o canto da minha boca eu sabia que ficaria tudo bem. Nós não havíamos nascido um para o outro. E eu fico muito feliz por ele finalmente ter achado a garota que ele tanto descrevia. 
                  Tive beijos com gosto de poesia e palavra com um cara que era só um cara, num momento que era só um momento; mas tínhamos conexão. Nos olhamos nos olhos e falamos sobre dominar o mundo e sobre teorias completamente erradas sobre a vida. Rimos tanto e tínhamos tanto a dizer, mas tão pouco tempo. nos abraçamos forte e nos despedimos com um "nos vemos depois". Nunca mais nos vimos, mas ouvi dizer que ele viajou o mundo como disse que ia fazer. 
                   Tive beijos com pessoas que eram importantes demais para perder. Alguns não eram para ser. Alguns tiveram que ser. Sem arrependimentos da minha parte. Alguns beijos servem para preencher silêncios. As vezes só para não se perder em profusões de pensamentos imaginando como seria se. Alguns beijos foram de despedidas. Amores que precisavam se despedir e ir embora. Alguns tiveram um gosto doce e outro um amargo desnecessário. Perdi a conta desses. 
                 Mas teve aquele beijo com gosto de medo e amor e bala de uva. Passei um tempo sem saber o que pensar sobre isso. E quando resolvi os dessignificados que aquilo tudo tinha, muito tempo já havia passado e o beijo azedou. Perdeu o toque de uva, o amor e o medo ficaram por um tempo, até se dissiparem num misto de contentamento e nostalgia. Esses amores que partem cedo ou tarde demais. Que se esvaem em pequenos contos quando ousamos falar deles por aí. 
              Ainda conheci o beijo que se encaixava perfeitamente num suspiro. Dentro do metrô, observando o movimento das pessoas. Os planos que eu e ele fizemos naqueles bancos. Pensando em tudo e nada. Pensando na nossa chegada e na despedida. Viemos com prazo de validade estampado nas nossas testas e eu não sorri na última vez que eu o vi. Espero do fundo do meu coração que ele ainda tenha aquela gargalhada que eclode e aquele humor negro. 
                  Tive beijos fantasiados de expectativas, alguns dentro de museus e alguns que prometeram paixões avassaladoras. Pensei em mim. Uma corda saindo de cada poro me ligando as relevâncias que damos a primeiros beijos e desamores. Pensei na corda que damos para isso se agitar e como esculpimos sonhos e descrevemos gostos. Eu só espero que meu próximo beijo tenha gosto de cor e diversão. Não quero aquela idiotice clichê de "eu te amo" sussurrado e nem toda aquela história de perfeição. Espero sinceramente que tenha sorrisos brincados e uma boa história para contar depois. Faço questão de arreganhar a porta se for para ir embora depois, e estender um carpete de boas vindas se me apetecer. Espero apenas ser profundamente feliz e irônica. Arrebentar com algumas atmosferas claustrofóbicas e respirar fundo toda vez que o coração pular alto demais, aprender a ignorar alguns descompassos e arritmias seria bom também.  

                          

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