[Ressaca Amorosa]

[Leia ouvindo "Lately" - Noah Cyrus]
["Estou de ressaca amorosa; o despertar é violento"]


             Acordei pela manhã já sentindo o cheiro de pão de queijo e café. Essa é a parte ruim de se morar perto da padaria do seu Joaquim: Os cheiros vão se misturando pelo meu quarto enquanto meus olhos meio zonzos tentam fitar a janela. Minha cabeça ainda dói. Meu corpo ainda dói. Estou irremediavelmente triste e dolorida. Ainda não sinto meus pés e eu devo estar com as roupas da loucura desses últimos dias. Amèlie Poulain sabia bem o que estava fazendo. É, Amèlie, realmente são tempos difíceis para os sonhadores. Vou um pouco mais longe: São tempos difíceis para os amadores. Acho que meus cabelos estão desgrenhados e a maquiagem provavelmente está borrada. A gente precisa de escapes da insanidade da vida para recuperar um cadinho da lucidez. 
              Amor começa assim, sabe. Ele entra suave cheio de cafunés e dança de dedos, chega com olhos de ressaca e altivez. Te encanta. Te balança. Te enlaça. Te sufoca. É cotidiano. Você se apaixona umas cem vezes por cem pessoas diferentes. O amor é loiro/moreno/alto/baixo, gosta dos beatles/The lumineers/Liniker/Blink, prefere filmes do Socorsese/Tarantino/Andersen, prefere Augusto dos anjos/Carlos/Pessoa/Vinicius. O amor gosto de variar, sabe. Ele gosta de substituir e eu não o culpo por isso. Vira e mexe eu estou substituindo o amor e chorando por ser substituída. Que patética! Mas o tal Vinicius já sabia disso quando ele termina gritando: "Que seja eterno enquanto durar!". As relações humanas não são condicionadas a isso? Se ama até o amor acabar. Nem um cadinho menos. Nem um cadinho a mais. Ou se ama intensamente, ou não se ama. E quando o amor se acaba é hora de fazer as malas, tomar um porre. Outro amor chega. Você se senta, desiludida. Cria expectativa. Tem esperança. As vezes dá certo. As vezes não. As vezes o amor beija. As vezes não. E está tudo bem. Mesmo!
               As vezes o amor dura anos. Seis, sete... As vezes décadas. As vezes o amor dura um ou dois meses. As vezes dura semanas ou dia. As vezes dura uma hora ou trinta minutos. As vezes dura só o tempo de uma dança lenta. As vezes dura exatos três segundos. 1. 2. 3. Três segundos e uma epifania. O amor faz assim mesmo, meu bem. Não importa quanto tempo dura, o amor só dura o suficiente. O bastante para enraizar, o bastante para apodrecer. O bastante para rir, o bastante para chorar. O bastante para morder, o bastante para beijar. O bastante para sangrar. O amor nunca dura para sempre. O verme corrói a putrificina do sempre e a desaventurança do nunca. 
               Esses dias o amor chegou. Chegou com data de validade. Chegou beijando meus olhos e se preparando para fermentar, uma hora azedou e eu não vou te dizer que teve um gosto bom. Nos despedimos com breves apertos de mão e cada um seguiu o seu rumo. Fiquei de cama por alguns dias meio moribunda, Meio de ressaca. Meio morta. Uma hora o amor volta. Ele sempre amou os vais e vens da vida e sempre adorou mudar de formas. O amor te embriaga e o despertar é violento. E eu só posso jurar para o amor que de tudo a ele serei atento. E eu realmente espero que ele seja eterno enquanto durar. 
              


            

Comentários

Postagens mais visitadas