[Espaço Tempo]

[Leia ouvindo "Alison" - Elvis Cortello]
[É que eu sou um furo no tempo espaço]
[Cuidado: é um texto ruim, muito ruim]

        Eu tive a sorte grande de estar aqui e agora. Tirei a sorte grande de estar voltando para casa agora neste exato momento; esperando o último metrô olhando ela gargalhar dentro do seu vestido amarelo perfeito enquanto vira uma garrafa de sei-lá-o-que. Eu tive essa sorte grande de nascer onde eu nasci, de conhecer quem eu conheci, de escalar montanhas e rastejar por bueiros para chegar aqui. Dia seis de outubro. Quase sete. Esperando o metrô chegar com umas pessoas que eu nem gosto tanto assim, mas com uma menina de vestido amarelo, risada gostosa e garrafa na mão. Eu quase esqueço que estamos ferrados: a política está ferrada, o país está ferrada, eu estou ferrado, ela está ferrada. E tudo isso porque eu tirei a sorte grande de nascer aqui. Tive a sorte grande de conhecer Leminski e Bukowski. Pude flertar de perto com Augusto dos Anjos e de dividir um cigarro corriqueiro com Clarice Lispector. Todos tão ferrados já. Das voltas e mais voltas que tivemos que dar até chegar aqui. Ou ali. Pulamos precipícios, sugamos novos vícios, traga um cigarro, aprende a dançar, beija ou escarra em bocas alheia, vende um rim. Tudo para para chegar em sei lá onde, fazer sei lá o que com sei lá quem de vestido amarelo-sorriso-garrafa. As vezes a vida é boa - mas só as vezes.
            Pudera eu deixar de ser essa discrepância e andar por aí no espaço tempo contínuo. Eu estraria em buracos de minhoca só para achar mais moças de vestido amarelo por aí afora. Pudera eu sorrir mais, criar expectativas, me apaixonar. Pudera eu vir em um formato diferente ou deixar de existir. Pudera eu gritar aos quatro cantos do mundo palavras minhas sem me preocupar com eventuais retaliações. Pudera eu nascer e nascer e nascer de novo até acertar minhas casca. Acertar o corpo, o rumo, o contexto. Parar de fumar. Pudera eu achar meu não-contexto do meu não-lugar. Ah! Eu ficaria tão confortável com Lima Barreto em seu limbo e ainda chamaríamos Augusto dos Anjos para tomar um conhaque e fazer companhia. Faríamos piadas e ligaríamos para Caio Fernando de Abreu só para fazer piadas sobre jamantas e talvez ligar para o disk-suicidio, opa! Disk-jamanta. Como seríamos darks! Sairíamos panfletando a nossa prosa torta e a nossa fala absurdista por aí afora. 
             Mas eu tive a sorte grande de descer por aqui, longe do limbo que eu queria, dentro do limbo pessoal, orbitando meu próprio sol morno. Ah! Eu queria era falar com Stephen Hawkings sobre a teoria das cordas e multiverso, mas eu acho que ele já foi para lá de malas e tudo e se esqueceu de deixar suas coordenadas para não o seguirmos. Queria eu poder flutuar por estes emaranhados de "ses" e "talvez". Talvez houvesse por lá uma menina assim, meio linda de vestido amarelo, risada gostosa e garrafa vazia - Humor implacável, ironizava o mundo inteiro. 
             Eu tive a sorte de rotacionar em torno do meu próprio eixo, pude orbitacionar em alguns sóis. Saindo e entrando em órbitas. Tive a sorte de encontrar mais um sol: amarelo, risonho, engarrafado. Não sei se a interação fará a minha atmosfera gritar, mas ela já está reagindo. Talvez ela não aguente e sucumba. Talvez ela crie condições ideais para alguma vida começar a surgir - não sei dizer. Talvez o sol se exploda e me fragmente fazendo com que os meus pedacinhos voem junto com os asteroides por aí. Talvez eu vá morar no cinturão com eles. Talvez o meu lugar seja esse afinal. Mas eu não saberia dizer. 
             Eu só sei de três coisas no momento: 1 - eu tive a sorte grande de estar aqui e agora. 2 - A menina de vestido amarelo parou de sorrir. 3 - o metrô chegou. Talvez um dia a sorte bata de novo em minha porta e eu vá parar em alguma galáxia muito muito distante explodindo alguma estrela da morte por aí.      
            

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