[Casa de Pensão]

Leia ouvindo "Say Something" - A Great Big World"
[A jovem escritora tem carregado o coração na peneira e tem o deixado pingar por aí. Ela volta a trazer temas monótonos e vai insistir em canções de amigos e lírica trovadoresca. Talvez uma pitada de melodrama. Não a levem a mal, eu imploro. A vida tem sido difícil para os amadores]
[Um dia desses, Paula estava de ressaca amorosa e sua mente teimava em fazê-la pensar em muitíssimos nadas]
[É um texto ruim. Não me leve a mal]

          Fiquei de cama por uns dias. Mesmo. Tratei de vestir um pijama confortável, me enterrei em caixas de pizza e em blocos de óreo. Tomei vinho barato da garrafa. A maquiagem borrou. A luz apagou. O salto quebrou. O cigarro não entorpece. Eu estou bem. Mesmo. 
            Não me leve a mal. É que as vezes pensar em desamores dói. Pensar nesse entra e sai, nessa andança toda. Eu sou como uma casa de pensão, sabe. Muitas pessoas entram já esperando a hora exata de sair; Levam bagagem, eu as instalo, mostro o jardim e a biblioteca. Troco os forros de cama e digo que posso ser útil no que der e vier. E eu realmente sou. Cozinho, troco lampadas, sorrio, aperto as mãos, limpo, organizo, perduro quadros, toco piano, aceito fumantes. É tudo pragmático. Mas eventualmente, a casa de pensão temporária não serve mais. As pessoas querem mais da vida do que um quarto abafado - por mais que as cortinas sejam lindas e a parede recém-pintada. Não os culpo. É bom ter sempre o próprio espaço. Mas queria mesmo é que ninguém roubasse a minha prataria ou que saíssem a francesa. Seria bom acertar o aluguel, eu até daria uma festa de despedida e faria um bolo para a viagem. 
              Eu não culpo ninguém. Quando chega a hora da partida, você deve mesmo subir no trem e se redescobrir de alguma forma. Achar uma nova casa de pensão, ou construir uma casa para se estabilizar, talvez fugir com o circo ou mesmo pegar um navio rumo a qualquer lugar. Eu não sou uma gaiola que quer prender seus inquilinos. Mesmo. Mas é que a vida é tão passageira para não revisitar alguns becos pelos quais você passou ao mesmo passo que a vida é tão insossa para rever o que você já viu e deixar de ver o que não viu. A vida galopa, corre, voa. Talvez a gente devesse mesmo era fechar essas casas de pensão. Dá tanto trabalho ser senhoria. 
              Estes desamores roubam o sono. Um dia um jovem fechou um contrato por seis meses. Era um poeta nato, me pedia para musicar alguns poemas. Hoje ele voa o mundo tocando suas (nossas) canções. Outro dia um jovem médico bateu na minha porta. Ele tinha insonia e passávamos madrugadas a dentro desabafando e comendo biscoitos. Já acolhi atletas, professores, estudantes, leigos, carrancudos e sorridentes. Juro que foi divertido, apesar da partida precoce e das tralhas que eles deixaram para trás: Alguns livros, duas fitas cassetes, um estetoscópio, receitas, enfim, tenho um quarto cheio delas. 
                 Talvez eu devesse trocar de roupa, pegar um trem e sair em viagem. Foda-se a pensão. Ninguém vem vindo nesses tempos difíceis mesmo. Talvez eu devesse vender tudo e virar nômade. Andarilha. Virar hóspede. Talvez ser meu próprio lar e viver uma dessas vidas mal pagas em algum cabaré. A vida parece ser mais simples daqui de cima. Talvez lá em baixo ela me desassossegue e me tire para dançar. Talvez eu encontre uma casa vazia pronta para ser redecorada e eu tenha disposição para ficar. Talvez o amor se esqueça de bater na minha orta mas me encontre num navio rumo a qualquer lugar e esteja pronto para dominar o mundo. Talvez eu devesse tirar o pijama, recolher as caixas de pizza e sair para fazer alguma coisa. Estar moribunda faz você pensar demais.  
                
             

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