[Queda Livre]

[Leia ouvindo "Falling away" - Big Scary]
[É mais um devaneio bobo e melodramático]


               Hoje cedo eu pensei em como nunca fui boa em ler as entrelinhas. Sempre fui daquelas pseudoleitoras que passam os olhos superficialmente pelas páginas de um romance bobo. Por isso eu sempre perdi os hipertextos que acompanhavam as linhas das minhas histórias. Talvez seja por isso que eu também tenha tanta dificuldade em ler as pessoas. Talvez porque eu tenha crescido em meio ao caos e me alimentado de probabilidades e expectativas. Talvez por eu nunca ter tido tempo de ler um texto completo. Talvez por isso eu tenha perdido tantas cartas de suicídio. Talvez por isso eu tenha escrito algumas cartas de despedida sem perceber e talvez daqui a anos, quando as encontrarem, penduraram uma foto miúda minha num jornal perto de um poema de Anne Sexton. É que a vida não é morte, meu bem, e isso vem me confundindo já faz um tempo. Talvez tenha sido por isso que eu cortei meu cabelo em um impulso lírico na frente do espelho e talvez por isso eu tenha ouvido tanto "teen idle" quando eu tinha dezesseis. Talvez isso tenha feito com que eu abusasse do delineador e sorrisse tanto com os olhos. Mas eu não saberia te dizer. Eu poderia contar das vezes em que meus poemas com duplo sentido acabaram por não fazer sentido nenhum na boca de quem lê. Talvez seja por isso que eu trancafiei a minha língua e toda aquela baboseira impulsiva, mastiguei bem e engoli. Depois vomitei. E quando eu falo de vinhos e cigarros e sonhos lúcidos e devaneios bobos, eu só quero conseguir criar a metáfora perfeita, porque eu já esgotei todas do meu arsenal de frases prontas para descrever como é estar boba e estilhaçada e confusa e machucada. E eu sei o tanto que soa melodramático e bobo. Eu queria mesmo era ser uma profetisa. Ter sonhos blindados. Tampar as lacunas das minhas irrealidades com futuros bonitos. E se o futuro não for bonito, eu posso simplesmente escrever cartas para o além muro ou ligar para jamantas como Caio Fernando de Abreu. Eu sei que já fiz essa piada antes e que isso não tem a menor graça e que já saturamos do humor negro e do melodrama por aqui. Mas o fato aqui é que eu não sei ler as entrelinhas. Também não sou tão boa assim em falar por elas. Então o que eu quero dizer hoje é que eu estou em uma constante queda livre e as vezes - bem as vezes - costuma ser divertido. 

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