[As Mentes Que Viajam Para Um Lugar Distante]

[Leia ouvindo "Shine A Light" - BANNERS"]
[As pessoas que inspiraram esse texto são extraordinárias]



        O coração do meu irmão mais velho costumava palpitar muito rápido sempre. Quando eu perguntei o motivo, ele sorriu meio bobo e disse que o remédio que ele tomava para os pensamentos dele ficarem no lugar tinha alguns efeitos colaterais. Me explicou que era por isso que quando adormecíamos vendo algum filme, eu acordava por causa do sobressalto do corpo dele - Espasmos eram efeitos colaterais também. Perguntei para ele o motivo de continuar tomando remédios que não faziam bem para o corpo. Ele voltou a sorrir e me disse que faziam bem para a mente. Permitiam que a mente dele, durante a aula, não voasse para um lugar distante e mais feliz; como a cachoeira que fomos certa vez, quando o céu estava mais azul que o normal e a água caía fazendo a trilha sonora perfeita. Perguntei se a imaginação dele era tão boa assim para levá-lo a lugares felizes em qualquer momento e como eu fazia para potencializar a minha mente desse jeito. Ele deu risada, me sentou em suas pernas e me disse que havia nascido assim e que as vezes queria não ser deste jeito. Foi a minha vez de dar risada. Como assim preferia não ter nascido com uma mente teletransportadora? Ele fazia ideia de para onde eu iria com uma mente daquelas? Ele me disse que na prática não era tão simples e maravilhoso daquele jeito. Disse que as vezes quando estava fazendo uma prova ou ouvindo o professor, a mente resolvia viajar. A danada era autônoma: Não pedia licença para assumir o volante e pilotar para onde lhe apetecesse, era como uma intrusa, uma sequestradora. E o problema não para por aí: ele era responsabilizado por-seja-lá-o-que-a-danada-fizesse. Me pareceu injusto e eu fiquei extremamente grata por existirem remédios que por mais que aumentassem a frequência cardíaca, diminuíssem a tal da imaginação descontrolada. Mas algo ainda era pertinente: Por que ele não explicou para os professores dele o que acontecia na mente? Ele me respondeu que tentou. Tentou e tentou. Falou com a mamãe, falou com o papai, falou com mais professores e até com os amigos - ninguém entendeu. Ele disse que ficou um bom tempo pensando que havia vindo quebrado. Que não prestava atenção nas coisas e viajava por ser desleixado e estúpido. Balancei a cabeça. De estúpido, meu irmão de ombros largos e sorriso reluzente não tinha nada. Me pareceu injusto ele crescer acreditando nessa mentira. Ele me disse que estava tudo bem, afinal, ele encontrou alguém que o entendeu. Uma das moças gentis que conversam com você por horas, se você precisar, se sentou com ele e explicou que algumas pessoas viajam por mais lugares que as outras e está tudo bem com isso. Ela indicou outra moça para conversar com ele semanalmente. Uma moça de sorriso amarelo e olhos atentos que não o repreendia por viajar tanto e o ensinou receitas mágicas e encantamentos para driblar a tal da imaginação. Ele me contou que depois disso, parou de ver em si mesmo desleixo e estupidez. Passou e a se olhar com mais respeito no espelho e descobriu as coisas que realmente gostava de estudar e de fazer. Ele me contou que na vida, a maioria dos caminhos são difíceis de se trilhar e que a maioria das pessoas não sabem ser gentis. Ele me disse que os cantos mais penosos de se andar eram o que ficavam dentro de nós mesmos. Por fim, ele me disse que era por isso que resolvera estudar e cuidar da mente de gente. Quando eu crescer quero ser igualzinha a ele. 

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