[Segundo Vagão]
[Leia ouvindo "Young Love" - Coby Grant]
(Este texto foi escrito de uma forma confusa, pois a autora se sente confusa no momento presente. Por favor, tente ler com gentileza e empatia)
São sete horas da manhã e eu ainda estou sonolenta pois acordei ás seis. Nos meus fones ressoam "Teatro Mágico" e eu levo comigo um livro de poemas. Rupi Kaur. A estação é fria e cheia nesse horário. Gosto de pegar o vagão feminino quando venho sozinha, mas hoje eu entrei no segundo vagão. É uma segunda feira e nas segundas não acontecem nada de bom. Nos segundos vagões também não.
Vou sentada no chão, encostada com o meu livro. Fernando Anitelli canta sussurrado no meu ouvido:
Você me bagunça e tumultua tudo em mim
essa moça musa, usa, abusa de todo mundo sim,
Meus olhos percorrem as páginas a minha frente, Rupi Kaur me diz:
O amor vai chegar
e quando o amor chegar
o amor vai te abraçar
o amor vai dizer seu nome
e você vai derreter
Fernando e Rupi se complementam tão bem que eles me trapaceiam com lapsos de fuga da realidade. Por um minuto eu esqueço que é segunda e que eu odeio segundas. Minha mente se ocupa com algo a mais que o horário. Vejo se a minha mente está bagunçada e se o amor porventura quis abusar de mim. Será que ele chegou? Será que está naquele cara de barba que lê sorridente uma peça de Molière? Ou será que o amor está dormindo até a essa hora em outra cidade? Será que ele está em Portugal, França, separado por correntes marítimas e fronteiras? Não sei dizer.
Vejo o amor na minha frente. Um casal de velhos. Uma senhorinha enrugada está com a cabeça apoiado em um senhor. Eles sorriem. Estão confortáveis. Talvez a gente nunca tenha realmente ombros ossudos para repousar a cabeça antes e depois de um dia de trabalho - Mas quem sabe. O amor gosta de aparecer e sumir assim mesmo, do nada. No acaso.
O amor quase se mostrou para mim algumas vezes. Mas eu sou medrosa demais para deixar o amor chegar e me tumultuar e bagunçar: Eu gosto das coisas organizadas e bem guardadas no meu coração; lá dentro tudo é bem limpo e bem dobrado. Não gosto de ser derretida. Gosto de sentir minha pele assim, dura. Como se ninguém fosse capaz de imolá-la para alcançar a minha alma. Sou uma criatura de aço. Longe de contato físico e interação social. - Será que é porque eu sou molenga por dentro?
São sete e meia, eu tenho que guardar o livro e os fones. Ainda estou sonolenta pois acordei ás seis. Hoje não é um bom dia: É uma segunda feira e nas segundas feiras não acontece nada de bom. Nos segundos vagões também não.
(Este texto foi escrito de uma forma confusa, pois a autora se sente confusa no momento presente. Por favor, tente ler com gentileza e empatia)
São sete horas da manhã e eu ainda estou sonolenta pois acordei ás seis. Nos meus fones ressoam "Teatro Mágico" e eu levo comigo um livro de poemas. Rupi Kaur. A estação é fria e cheia nesse horário. Gosto de pegar o vagão feminino quando venho sozinha, mas hoje eu entrei no segundo vagão. É uma segunda feira e nas segundas não acontecem nada de bom. Nos segundos vagões também não.
Vou sentada no chão, encostada com o meu livro. Fernando Anitelli canta sussurrado no meu ouvido:
Você me bagunça e tumultua tudo em mim
essa moça musa, usa, abusa de todo mundo sim,
Meus olhos percorrem as páginas a minha frente, Rupi Kaur me diz:
O amor vai chegar
e quando o amor chegar
o amor vai te abraçar
o amor vai dizer seu nome
e você vai derreter
Fernando e Rupi se complementam tão bem que eles me trapaceiam com lapsos de fuga da realidade. Por um minuto eu esqueço que é segunda e que eu odeio segundas. Minha mente se ocupa com algo a mais que o horário. Vejo se a minha mente está bagunçada e se o amor porventura quis abusar de mim. Será que ele chegou? Será que está naquele cara de barba que lê sorridente uma peça de Molière? Ou será que o amor está dormindo até a essa hora em outra cidade? Será que ele está em Portugal, França, separado por correntes marítimas e fronteiras? Não sei dizer.
Vejo o amor na minha frente. Um casal de velhos. Uma senhorinha enrugada está com a cabeça apoiado em um senhor. Eles sorriem. Estão confortáveis. Talvez a gente nunca tenha realmente ombros ossudos para repousar a cabeça antes e depois de um dia de trabalho - Mas quem sabe. O amor gosta de aparecer e sumir assim mesmo, do nada. No acaso.
O amor quase se mostrou para mim algumas vezes. Mas eu sou medrosa demais para deixar o amor chegar e me tumultuar e bagunçar: Eu gosto das coisas organizadas e bem guardadas no meu coração; lá dentro tudo é bem limpo e bem dobrado. Não gosto de ser derretida. Gosto de sentir minha pele assim, dura. Como se ninguém fosse capaz de imolá-la para alcançar a minha alma. Sou uma criatura de aço. Longe de contato físico e interação social. - Será que é porque eu sou molenga por dentro?
São sete e meia, eu tenho que guardar o livro e os fones. Ainda estou sonolenta pois acordei ás seis. Hoje não é um bom dia: É uma segunda feira e nas segundas feiras não acontece nada de bom. Nos segundos vagões também não.
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