[Responsabilidade]

[Leia ouvindo "Sidewalks" - Stay Young]
[Uma vez, um autor superestimado e comercial disse que na vida não podemos escolher se vamos ou não nos ferir. Mas podemos escolher quem vai nos ferir. Acho que concordo com ele.]
[É um texto estranho, me perdoe, eu não fazia ideia do que estava escrevendo]

[Embrace I - Maria Kreyn]

                Depois de algum tempo, eu consegui me livrar de você. Depois de alguns banhos, depois de lavar a roupa de cama umas vinte vezes e depois de trocar a cortina e abrir a janela. Seu cheiro finalmente desimpregnou da minha casa e de algumas partes de mim. Já posso dormir sem ter medo de acordar de um sonho onde você segura a minha mandíbula, já posso parar de beber vinho direto da garrafa, já posso me esgueirar pelas esquinas que eu costumava andar com você sem ter medo de te encontrar. 
              Depois disso, eu me senti à vontade para peregrinar em corações alheios; passei de coração em coração buscando novas dores para sentir, novas gentes para me magoar e pra eu magoar de volta como num pêndulo. É que com você eu aprendi a flutuar nas imperfeições e aceitar meu lugar no mundo como destruidora de desamores, sabendo que o meu coração seria jantado por onde quer que eu passasse. E algumas vezes foi fácil. Sentei a mesa e entreguei metade do meu coração de bandeja como quem não quer nada, comi de garfo e faca e ainda pedi a sobremesa; depois, me levantei como se nada tivesse acontecido, agradeci pela recepção, pela antropofagia, pelo canibalismo ou pelo o que fosse aquilo e parti. Eu sempre partia. 
                Não sei se dessa vez vai ser igual, mas eu já coloquei o coração pra fora do peito - todo ele dessa vez. Eu não sei por que temperos esperar, mas espero que não cause uma constipação ou uma azia, de qualquer forma eu tenho antiácidos. Espero que desça com tinto suave e com boas gargalhadas a mesa. E se for para ficar cativa, aceito até mesmo cozinhar. Mas se for para ir embora atrás de novos sabores e novos temperos, melhor ainda. Você me ensinou a nunca ficar estática e a nunca deixar meu paladar se acostumar. 
               

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