[Cartas para depois do muro]

[Leia ouvindo "The Scientist" - Coldplay]

["Amar sem ser amado de volta é péssimo; mas amar e ser amado de volta é uma catástrofe. 
Quando te encontrei estava capaz de amar alguém para sempre desde que não amasse tanto assim: desde que não fosse tão fundo assim"]

                 Queria começar te pedindo desculpa por ter entrado quando tudo estava bagunçado assim. Eu juro que tentei manter o capacho de boas vindas limpos e as taças de vinho sem poeira. Juro que fiz de tudo para manter as coisas organizadas por aqui. Mas desculpa. Outros desamores passaram enquanto você não vinha e bagunçaram tudo. Eu boba, deixei todo mundo entrar, mas não me arrependo. Eu não seria tão eu se não tivesse deixado me bagunçarem dessa forma. Meu cinzeiro ainda está abarrotado e falta bebida na geladeira. Queria ter guardado mais para você. Eu poderia ter te servido um lindo banquete se você tivesse chegado um pouco mais cedo, um pouco antes de eu ter desaprendido a cozinhar.
                   As vezes a impossibilidade de se amar quem já se ama arrebatadoramente entra sem bater. E isso dói. Ainda mais quando ela não tira os sapatos para entrar e pisa firme sujando todo o carpete de lama. Eu queria conseguir te amar do jeito que eu já amei. E se eu conseguisse te amar certo, as tardes de domingo seriam só nossas, deitaríamos na grama e gargalharíamos do mundo. Pegaríamos o metrô desde a central e iríamos jogados no chão ouvindo uma melodia boba do Bon Iver e fazendo planos sobre nós. Beberíamos vinho sábado a noite e eu te tiraria para dançar sobre a luz da lua. Iríamos dormir bem cansados e eu acordaria com você do lado sentindo o coração pular para a garganta. Seríamos épicos. Você riria da minha carranca e eu tiraria sarro da sua total incapacidade de falar de assuntos sérios sem cair na gargalhada. Eu respiraria fundo antes de mergulhar em você e ficaria bem por horas.
                Mas eu te preparei um quarto. Comprei um cinzeiro novo. Comprei cerveja e aprendi a tocar ukulele. E por mais que eu tenha usado meu arsenal de palavras para descrever como era estar amando certo as pessoas erradas, estou disposta a aprender uma novo língua para aumentar meu repertório e te dizer coisas que o meu português não permite expressar. Dei uma varrida na casa. Troquei as cortinas, mudei o sofá de lugar. Eu não sei mais dançar, mas podemos jogar cartas e rir de piadas mal feitas. Eu não estou mais tão disposta a amar com toda a loucura que a minha alma permite, mas estou disposta a ser divertida. Não tenho mais fôlego para passar a barriga no fundo, mas podemos boiar juntos de barriga para cima. Prometo te amar com leveza e descrição. Talvez até consigamos dominar o mundo, mas isso já fica ao teu critério. 

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