[O Tempo que passou]

 [Não fui amada por muitos, mas fui amada direito]

[Leia ouvindo " You've Got a Friend" - James Taylor]

[“Inertes exceto quando removidos, batiam as asas com fúria entre nossos dedos e então voavam para se agarrar novamente a qualquer coisa, inertes outra vez”]



    Não é tempo de chuva, mas ainda assim, chove. Os insetos da chuva, que já vivem tão pouco, estão confusos. Esses dias, um deles entrou aqui em casa. ficou preso no vão da janela, louco para alcançar voo mundo afora. Devia ser assim com o que amamos. Fiz o que pude para ajudá-lo. Mas meu mal fadado resgate resultou em um esmagamento. o Efeméride morreu no vão da minha janela. Mas não fiquei triste. Ele já tinha prazo de validade como o inseto que vive menos tempo, no máximo, 24 horas.

    Para Bukowski, o amor acontece a cada dez anos. O que fazemos no décimo ano? E se o matarmos antes? E os microamores que duram só o necessário. 

    O tempo das coisas devia vir estampado nelas. Já amei por três anos. Já amei por um. Já amei por seis meses e meio livro de Jane Austen. Alguns amores se renovaram, começaram a participar do meu substrato de maneira cômoda. Outros partiram em meio ao caos deixando para trás uma ou duas músicas. As vezes dois livros com dedicatórias. Outros não deixaram nada, nem nostalgia.

    Eu gostava de estabelecer um prazo. Você vai chegar, se acomodar, me beijar suave. Talvez me despir, mas só se eu quiser. Talvez eu mostre uma ou duas cores que ganhei ao longo do tempo. Mas só talvez. Talvez eu te expulse depois de um dia. Talvez outro amor chegue quando eu chegar aos dez. 

    Aprendi a receber o amor e a me despedir dele. Quando vier, não o assuste. Pergunte quanto tempo quer ficar. O convide para um café forte. Separe os pequenos tesouros que chegaram antes dele. Divida ou jogue fora. O amor tem mania de ser cruel quando se demora. Talvez por isso ele aconteça a cada dez anos e seja mais insignificante que as efemérides. 

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