[Infantilidade]

[Leia ouvindo "Malandragem" - Cássia Eller]

[Seja gentil comigo ao passar pela porta (ou tente). Eu prometo (tentar) fazer o mesmo]

[Meu coração continua sendo uma criança mimada. Se magoa fácil, faz birra, tem as vontades atendidas. E talvez por isso ele tenha essa capacidade terrível de ferir]

Meghan Howland

O amor é uma brincadeira de criança; se perde, se ganha. Mas nunca se deixa de jogar. Essa é a máxima que aprendi com tantos e poucos anos. Aquelas repetições e variações cansativas de elipses, mágoas. A dança costumeira de dedos e a tentativa de ocupar o mesmo espaço.

Das não-sei-quantas vezes que o tédio me beijou com os seus lábios suaves e convidou o amor para brincar com cirandas de pedras, tentei acompanhar o ritmo de frenesi com o qual ele tamborilava os pés no chão, mas me contive. Bebi do vinho, mas não me embriaguei. Molhei os pés na água, mas não mergulhei. Girei com os braços abertos, mas não fiquei tonta. E a vida foi gentil. Braços fortes e carinhosos, consolos e beijos na testa. Os amores entraram e saíram e nenhum me deixou particularmente saudosista, de pernas bambas, quase morta de desejo, mas inspirou algumas cantigas de amigo e poemas soltos.

Tentei ser a beldade, inspiração de sonetos, musa como as dríades e náiades que ajudavam na construção das epopeias. Mas só pude ser eu mesma. Como se na minha pele, estivesse entalhado meu nome, sobrenome, endereço e aquele apelido que só eu sei que tenho. E eu não pude ocultá-los com roupa alguma, pois apareceriam em alto relevo para dedos ágeis sentirem. Mas o amor funciona assim. Como uma dança cheia de troca de pesos e desequilíbrios cotidianos. Um vai e vem suave e uma queda brusca. Não se pode lutar contra, nem estirar os dedos para alcançá-lo. Se pode, no máximo, como uma boa criança mimada, prender a respiração; bater à porta com toda força; rolar no chão e chorar alto.

Mesmo assim, o amor não vai ser gentil sempre.

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