[Infância]

[Leia Ouvindo "Are You Bored Yet?" - Wallows]

["Talvez algum dia alguém me deixe de lado. E será perfeitamente justo"]


[Meghan Howland]


    Quando eu tinha 15 anos, aquele cara mais velho que segurava a minha mão como se eu fosse uma boneca de porcelana prestes a quebrar me disse aos sussurros como quem confidencia um segredo: "eu tenho inveja. Eu tenho inveja da sua liberdade. Eu tenho inveja da sua linha reta que se multiplica a sua frente. Eu tenho inveja do seu futuro". Eu respondi, grosseiramente, que morria de inveja dos caminhos prontos, quase que exatos sem nenhuma rota tentadora de fuga. Aquele cara mais velho se limitou a rir, a me levar para o carro e dirigir em alta velocidade para me deixar em casa, num silêncio absoluto. Passamos a ponte, paramos em semáforos, o sol ia embora como que numa despedida suave, melancólica, quase que injusta. Não me lembro de como nos despedimos, mas nunca mais o vi. 
    Estes dias, revirando tralhas, senti saudades de ser criança. De ter 13 anos. De ser promissora: um prodígio. Senti saudades de revisitar meus cantos e meus primeiros; os primeiros pontos de ruptura, a primeira dança, a primeira saída de casa, a primeira noite fora, quase estática, o primeiro beijo. A primeira censura. Quando eu esqueci de como se respirava e de como se amava e desaprendi a existir, desaprendi a ser autêntica e até meu sorriso mudou. Senti saudades, por mais que ouvisse a voz de Cecília Lisbon me censurando como que uma premonição retrógrada: "Nunca foi uma garota de 13 anos?" Já fui sim, Cecília, e amei e odiei cada segundo como você deve ter feito.

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