[Irreparável]

[Leia Ouvindo "Asleep" - The Smiths]

["Is there something wrong with you?

A loose screw or two that ruined your ability to function?

Why are you always so tired?

Your life is uninspired and small; all you do is sprawl on the couch

with outstretched limbs like a sloth in slow-motion.

Where is your devotion to succeed, Maia?

Did it drift out your window with the smoke from your weed?

Do I need to force feed you discipline ‘til you finally concede?

I cook and I clean and I don't stop ‘til the soles of my feet bleed.

But I'm fine.

I'm perfect."

- Maia Mayor]

[Marta Penter]

           

Eu já fiz as minhas contas e faltam aproximadamente dez anos para eu alcançar o sucesso. Falo sério. Ou é o sucesso ou um câncer no estômago, afinal, a minha úlcera já começou. Era uma gastrite nervosa durante o ensino médio. Tanto faz. De qualquer forma eu continuo comendo meu jantar a garfadas em pratos fundos e ainda ouço as calamidades públicas assim que acordo às cinco da manhã. Esse é meu esforço para o sucesso. E se a madrugada me aperta e me tira para dançar com as estrelas, eu acendo uma vela e leio as perdas irreparáveis que Carlos Drummond faz quando finalmente se percebe menor que o mundo. E eu leio a lista de coisas que Sylvia Plath descobriu sobre o mundo quando tinha a minha idade e me pergunto se também vou enfiar a minha cabeça em um forno quando fizer trinta. Depois que a cera da minha vela já se derreteu quase que toda e já se petrificou nas minhas mãos como chumbo, eu consigo criar a minha própria lista de perdas irreparáveis: *Nunca mais dormir no sofá e acordar na cama porque o seu pai te carregava e agora você está grande demais para isso. *Nunca mais subir nos ombros do seu avô porque ele morreu já fazem quinze anos. *Nunca mais brincar de bonecas com a sua irmã mais velha porque agora vocês duas têm contas para pagar. *Nunca mais fugir da realidade em situações chatas com brincadeiras extremamente divertidas. *Nunca mais fingir que está doente para matar aula. *Não usar mais saias coloridas. *nunca mais sentir o frio na barriga por ter medo de ser pego assistindo filmes escondido da sua mãe. *Nunca mais selar amizades com aperto de mão como quem sela um contrato. *Não caçar fadas. *Não acordar cedo para ver desenhos animados. *Andar descalço na rua enquanto joga bola. *Nunca mais dar o primeiro beijo. *Nunca mais ficar bêbado a primeira vez e voltar pra casa flutuando morrendo de medo de ser pego. *Aprender a gostar de música e arte e livros mas nunca conseguir apreciá-los. *Perceber que as pessoas que dançam no semáforo com asas e pipas não são tão poéticas quanto você pensava. *Perceber que está perdendo tempo listando perdas irreparáveis para a lua quando deveria estar estudando para um concurso público, fazendo um fichamento para a faculdade ou qualquer coisa mais útil que poesia. *Perceber que Walking On Sunshine não faz sentido nenhum.

Acho que vou parar por aqui.