[Central]

[Leia ouvindo "Istanbul (not constantinople)" - They Might Be Giants]

                  O frenezi, o entra e sai e todo aquele calor quando as portas do metrô finalmente se fecham. Tenho me sentido assim meio sufocada já faz um tempo e o último vagão do 1141 deixa suas luzes apagarem e ascenderem conforme se passam os segundos. Eu já contei. A cada quarenta segundos elas se apagam. São 18:30 e assim que as portas se abriram, as pessoas se degladiaram tentando se sentar. Primeiro nas cadeiras vermelhas. Ninguém gosta de sentar nas preferenciais, apesar da nova lei dizer que todos os assentos são preferenciais. Os seres humanos gostam de ignorar detalhes. Tem alguém usando perfume barato e o senhor suado se sentou ao lado da moça com batom vermelho sangrando no canto da boca. Um casal encostado na porta esquerda troca saliva, eles fingem que estão a sós, hipnotizados pelos olhos e língua um do outro. O metrô para, um segurança entra e pede para o cara de fone se levantar do chão. O movimento volta e o menino de fone volta a se sentar. O senhor com a bicicleta quase cai em cima da menina que lê a autoajuda barata. Ele se desculpa, mas não acho que ela ouviu ou sentiu o tropeço dele. Alguém espirra. O homem de mochila verde pisa na senhora que não tira os olhos do celular esperando uma mensagem do filho. Está tudo tão lotado que agradeço por não ter que descer tão cedo na minha estação. Uma criança chora e um rapaz não consegue sair a tempo. Ele perdeu a estação dele. Vai chegar atrasado no curso que ele faz a noite porque passa o dia inteiro trabalhando. As portas abrem e fecham, abrem e fecham, e aquele apito estridente ressoa e ressoa avisando do movimento das portas. O casal que trocava saliva acabou se esquecendo de que naquela estação as portas da esquerda se abririam, eles se assustam e acabam se desequilibrando. Bateram os dentes. O moço de jaqueta chora disfarçadamente. E o cara de boné quase cai. Eu tento ver em qual estação estou. As portas voltam a se fechar e a se abrir e a se fechar e a se abrir. Eu quase perco a estação. Faz um tempo que me sinto assim: Lotada, caótica. 

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