...Sabe dos (des)encontros?

              Quando amanheceu, Iago já estava na rua com seu violão, bom humor, o queiser aberto. Era sua rotina já há alguns meses. Seus olhos já buscavam os olhos de Isabela. Que não sabia o nome de Iago, nem que ele fumava todos os cigarros que ela depositava gentilmente dentro de seu queiser enquanto ele tocava The Lumineers, Beatles e Hadiohead. Quando Isabela não comprava cigarros, depositava balas ou chicletes de menta. Era uma rotina confortável.
               Iago não sabia que Isabela, depois do encontro matutino, corria para a faculdade de medicina e nem que ela frequentava a mesma universidade que ele. Nem mesmo que eles pegavam o mesmo metrô ás seis da tarde. Muito menos sabia da distância de duas ruas entre suas casas. Isabela não sabia que, enquanto fumava e olhava para as estrelas do seu apartamento; Iago fazia o mesmo deitado no telhado de sua casa. E vez por outra, seus pensamentos se cruzavam num só. Quarenta pensamentos sobre o futuro. Cinquenta pensamentos sobre o agora. E mais de mil arrependimentos. E como eles queriam gritar aos sete ventos sobre todos os pensamentos.
              Isabela não sabia que Iago fazia enfermagem no mesmo turno que ela. E nem que ele não frequentava happy hour, mas amava bares como ela. Nem sabia que eles iam na mesma cafeteria. Ele lá pelas oito. Ela ás sete e meia. Iago não sabia que quando lia antes de dormir os poemas mais estranhos do mundo de escritores desconhecidos; Isabela fazia o mesmo com uma lanterna em baixo do cobertor (Uma mania muito prática, se quer saber, quando o sono vier beijar os seus olhos, tudo que deve fazer é fechar o livro e desligar a lanterna para  não perder a posição confortável da cama.)
              Quando amanheceu, Isabela já estava de malas prontas para seu congresso na Inglaterra. Iago já estava pronto para mochilar pelo Chile. Ambos andando pelo aeroporto.
               _Você deixou cair isso! - Iago gritou segurando o maço de Malboro
               _Voos me deixam nervosa. - Isabela disse pegando o maço de cigarros. - Mas espera, eu acho que não te dei o cigarro do dia. Veio buscar?
               _Eu admito! - Iago sorriu - O que eu faria sem a minha fã que alimenta meu vício?
               Isabela sorriu e abriu o maço, oferecendo para Iago.
               _Vai ter que se virar por um tempo.
               _Você sobrevive sem as músicas? - Ele deu ombros.
               _Você sobrevive sem o cigarro?

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