[Exaurida]

[Leia Ouvindo "Conselho do Bom Senso" - TUYO]

Candice  Bohannon

["E era esta a pior das minhas culpas; não podias curá-la

ou apaziguá-la. Concebi-te para me encontrar." - Anne Sexton]



Eu me apaixonei por você quando eu descobri que você era exatamente como eu. Não por puro narcisismo, veja bem, eu me apaixonei porque eu nunca pensei que pudesse amar os meus defeitos e qualidades. E eu só consegui amá-los por eles estarem personificados em outra pessoa. E eu tentei te rotular te etiquetando dentro de um dos castelos que construí. Eu criei expectativa. Te tratei como se fosse inventado por mim. Te dei cores que você nunca assumiu. Ajustei a minha frequência para hertz que você não podia emitir. Te coloquei numa centrífuga para te separar do seu núcleo e te colocar no meu. Pintei o seu retrato e te expus na parede. Você apodrecia nela como o meu próprio Dorian Grey. Fui reconhecendo no seu retrato o olhar de ressaca que eu já tinha nos meus olhos. Não como os de Capitu: olhos próprios de ressaca em cima de enormes olheiras, resultante das bebedeiras e das noites em claro no mais puro ócio. Abri sua caixa craniana e retirei seus sonhos, um por um, enfileirados sob o meu travesseiro pingando expectativa e desamor. Dormi em cima deles fingindo que eles eram meus. E você convulsionou. Eu virei um coágulo nas suas artérias, brincando de correr até você não conseguir respirar. Foi quando eu parti. Queimei o seu retrato e coloquei um espelho no lugar. Esfreguei a minha pele com ácido e alvejante e álcool numa tentativa patética de limpar as minhas aquarelas. Me pintei de grafite. Botei os bofes para fora e abri minha caixa torácica para ver se alcançava meu coração. E cheguei até a fazer um lobotomia para ver se me entendia. Você ainda estava internado se recuperando de mim. Reaprendendo a andar e retomando os seus sonhos que ainda manchavam o meu travesseiro. Eles fediam a sangue e bile, mas você os queria mesmo assim, pois eram seus. E eu também tive que reaprender, reaprender como Anne Sexton, porque eu preferia matar a amar. porque eu preferia cavucar feridas abertas ao invés de deixá-las sarar. Não obtive resposta; mas destruí os castelos que contruí, para montar, tijolo por tijolo, uma torre e brincar de Ismália. Me apaixonei por você quando eu percebi que precisava me amar e não podia fazê-lo. 

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